CAPOEIRA: SABER POPULAR, ARTE E VIVENCIA

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A capoeira é uma expressão cultural e luta afro-brasileira criada pelos negros africanos que foram escravizados em território brasileiro.

Essa prática foi desenvolvida pelos povos escravizados como uma forma de defesa às brutais violências praticadas pelos seus senhores.

Acredita-se que o nome capoeira tem origem da língua tupi-guarani e faz referência a uma área de vegetação rala ou cortada.

Além de ser uma luta, a capoeira é arte, música e cultura popular. Em 2014, a UNESCO reconheceu a roda de capoeira como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade.

História e origem da capoeira

Durante o período da escravidão

A partir do século XVI, os colonizadores portugueses trouxeram milhões de africanos em navios negreiros para serem escravizados no Brasil.

Esses negros trabalhavam como escravos nos engenhos de cana-de-açúcar e na plantação de culturas como o tabaco, algodão e café.

Eles estavam submetidos a condições desumanas e degradantes de trabalho forçado e eram alvo de violências cruéis como mutilações e chibatadas.

Para enfrentar seus senhores e, quem sabe, conseguir fugir em busca da libertação, essa população começou a treinar golpes e a desenvolver a agilidade corporal e assim começaram a criar o que seria a capoeira.

Após o fim da escravidão

Com o fim da escravidão, os negros deixaram de ser escravos, mas foram mantidos à margem da sociedade, sem acesso à educação, trabalho e moradia.

A falta de oportunidade levou essa população, em muitos casos, à marginalidade, o que reforçava o racismo e as ideias de segregação na sociedade

A capoeira continuou presente na vida da população negra e também era vista como um ato marginal. Logo após a independência do Brasil, proibiu-se a sua prática.

O Decreto nº 847 de 1890 considerava crime:

Art. 402. Fazer nas ruas e praças públicas exercício de agilidade e destreza corporal conhecida pela denominação de Capoeiragem: andar em carreiras, com armas ou instrumentos capazes de produzir lesão corporal, provocando tumulto o desordens, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal.

A pena para esse crime era de 2 a 6 meses de prisão.

A visão da capoeira só começou a mudar décadas mais tarde, quando Manoel dos Reis Machado, conhecido por Mestre Bimba, abriu as portas da primeira academia de capoeira do Brasil.

Mestre Bimba e a descriminalização da capoeira

Mestre Bimba é um dos capoeiristas mais importantes do Brasil, responsável por descriminalizar a capoeira e iniciar a difusão da prática como um esporte.

Ele criou algumas regras de conduta e desenvolveu um método de ensino, de modo que a capoeira foi deixando de ser vista como uma prática de vadios ou malandros e foi se tornando uma prática de academias.

Em 1932 Mestre Bimba fundou o Centro de Cultura Física e Luta Regional, mesmo ano em que o presidente Getúlio Vargas liberou diversas manifestações culturais que eram proibidas, especialmente as afro-brasileiras.

 

A capoeira deixa de ser crime em 1936, quando Vargas extinguiu o Decreto que criminalizava a luta, classificando a capoeira como um instrumento de Educação Física.

Ao longo dos anos seguintes à descriminalização, a capoeira se difundiu, milhares de escolas foram abertas e a prática ganhou muitos adeptos no Brasil e em dezenas de outros países.

Tipos de capoeira

Apesar de ser uma só, a capoeira pode ser dividida em dois tipos principais: a capoeira angola e a regional.

Angola

A capoeira angola se aproxima mais da capoeira primitiva, os movimentos são mais lentos e cadenciados e são executados próximos ao solo. A capoeira angola tem como expoente o Mestre Pastinha.

Regional

A capoeira regional se origina com o Mestre Bimba, que para evitar o termo capoeira quando esta ainda era proibida, a denominou como “Luta Regional Baiana”.

Mestre Bimba era um praticante de capoeira angola e desenvolveu o estilo regional, com golpes novos e movimentação mais rápida e alta. Acredita-se que esses golpes tenham sido inspirados em outras artes marciais, como o Batuque.

Características da capoeira

Instrumentos

O principal instrumento da capoeira é o berimbau, feito com uma haste de madeira, um arame e uma cabaça. Além do berimbau, os instrumentos mais comuns na capoeira são: o pandeiro, o atabaque, o reco-reco e o agogô.

Vestimenta

As roupas utilizadas na capoeira variam muito conforme o grupo ou estilo de capoeira, mas pode-se dizer que grande parte dos capoeiristas utilizam calças e camiseta. Alguns grupos privilegiam a cor branca durante as rodas.

A roda de capoeira

A roda de capoeira é formada por um círculo de pessoas e uma bateria. A bateria é composta por um ou mais berimbaus e por outros instrumentos como o pandeiro, o agogô, o pandeiro e o reco-reco.

O berimbau é o instrumento que comanda a roda e o ritmo do jogo. Uma roda só se inicia ao toque do berimbau e os capoeiristas só podem iniciar um jogo com a autorização de quem está com esse instrumento.

Quando há três berimbaus na roda, eles possuem diferentes afinações e são chamados de gunga, médio e viola. Nessa caso, o gunga, berimbau mais grave, é o que comanda a roda.

 

Os jogos de capoeira acontecem entre duas pessoas enquanto a bateria toca e alguém canta. As músicas de capoeira são cantadas por uma pessoa e respondidas pelo “coro”, formado por todos os outros presentes na roda.

Musicalidade na capoeira

A música é parte essencial da capoeira, as rodas se iniciam com a música, que dão ritmo ao jogo.

A musicalidade é parte da capoeira, assim como são as movimentações e os golpes. Por isso, para ser um capoeirista completo, é preciso saber cantar e tocar os instrumentos.

Devido à musicalidade e aos movimentos cadenciados, a capoeira às vezes é compreendida como uma dança. A capoeira é, sobretudo, uma luta, mas ela não deixa de ser uma expressão cultural com elementos de dança, cultura popular e folclore.

Além das músicas, existem as ladainhas de capoeira, cânticos entoadas pelo mestre (ou por quem está no berimbau principal), geralmente no início das rodas.

As músicas e as ladainhas de capoeira costumam retratar temas relacionados à escravidão e ao sofrimento vivido pelos negros nas senzalas.

 

 

 

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