Símbolo da cultura afro-brasileira, a capoeira une esporte, dança, música e filosofia em uma só prática

Julho é o mês em que celebramos a capoeira como expressão artística e cultural brasileira. Mais que uma arte marcial, ela é símbolo de resistência, identidade e história do povo negro no Brasil. Misturando esporte, dança, musicalidade e filosofia, a capoeira é reconhecida no mundo todo como uma manifestação cultural única, que ultrapassa fronteiras e une comunidades.

A origem da capoeira: resistência em movimento

A história da capoeira começa no Brasil colonial, entre os séculos XVI e XIX, como uma forma de resistência dos africanos escravizados. Em meio à violência da escravidão, eles desenvolveram uma luta disfarçada de dança, com movimentos ágeis e coreografados, para se protegerem dos capitães do mato — os responsáveis por capturar escravizados fugitivos.

Como a prática era proibida pelos senhores de engenho, os praticantes disfarçaram os movimentos com músicas, cantos e instrumentos, dando à luta um aspecto artístico e cultural. Essa camuflagem foi fundamental para a sobrevivência da prática ao longo dos anos.

Após a abolição da escravatura, em 1888, a capoeira continuou marginalizada e chegou a ser considerada crime pelo Código Penal Brasileiro até 1937.

Cultura, música e identidade

O nome “capoeira” possivelmente tem origem nas áreas de vegetação rasteira — chamadas de “capoeiras” — onde os praticantes treinavam. A prática foi, ao longo do tempo, se tornando uma forma de preservação da cultura africana e de fortalecimento dos laços comunitários.

Um dos diferenciais da capoeira é o uso da música como elemento central. Os praticantes devem dominar instrumentos como o atabaque, o agogô e, principalmente, o berimbau, que dita o ritmo do jogo. Toques diferentes marcam intenções distintas — como o “toque de cavalaria”, usado historicamente para alertar sobre a chegada da polícia.

Mais do que saber lutar, ser capoeirista é também ser músico, dançarino e conhecedor da filosofia que envolve a prática.

Reconhecimento e valorização mundial

Em 2008, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu a Roda de Capoeira como Patrimônio Cultural Brasileiro. Anos depois, em 2014, a Unesco declarou a prática como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, destacando seu valor como instrumento de integração social, memória de resistência e construção de identidade.

O Dia Mundial da Capoeira, celebrado em julho, foi instituído pelo Artigo 10 da Convenção Internacional da Capoeira, com o objetivo de unir capoeiristas de todo o mundo em torno dessa prática ancestral.

Um legado vivo

A capoeira é, hoje, um dos maiores símbolos da cultura brasileira. Ensinada em escolas, academias e rodas comunitárias, ela rompeu barreiras sociais e geográficas. Em cada ginga, em cada toque do berimbau, carrega-se a força de um povo que transformou dor em arte, e opressão em liberdade.