Mestres da capoeira

MESTRE PASTINHA  Um dos maiores guardião  da capoeira e da cultura africana no Brasil,   começou a capoeira aos 12 anos, com um velho africano chamava-se Benedito, passou a ministrar aulas de capoeira  na Escola de Aprendiz de Marinheiro. Ao saiu da marinha e foi ensinar capoeira a Raymundo Aberrê.         Em 1941,  o mestre Amorzinho, que era um dos maiores mestres da Bahia, entregou a capoeira angola ao Mestre Pastinha, para que ele tomasse frente e a colocasse em seu devido lugar. Assim começou o CECA –Centro Esportivo de Capoeira Angola, no largo do Pelourinho.         Em 13 de novembro de 1981, veio a falecer aos 92 anos dos quais 82 dedicados à causa da capoeira.

PALAVRAS DO MESTRE SOBRE A CAPOEIRA

“Saem daqui da Academia sabendo tudo. Sabendo que a luta é muito maliciosa e cheia de manhas, que a gente tem de ter calma. Que não é uma luta atacante, ela espera. Capoeirista nunca dizia a ninguém que lutava. Era homem astuto e ardiloso, como a própria luta, que se disfarçou com a dança para sobreviver depois que chegou de Angola. Capoeirista é mesmo muito disfarçado. Contra a força só isso mesmo. Está certo”

“O capoeirista é um curioso, tem mentalidade para muita coisa, sabendo aproveitar de tudo que o ambiente lhe pode proporcionar. E a Capoeira Angola só pode ser ensinada sem forçar a naturalidade da pessoa. O negócio é aproveitar os gestos livres e próprios de cada um. Ninguém luta do meu jeito, mas no deles há toda a sabedoria que aprendi. Cada um é cada um”

SOBRE  DOIS  GRANDES  ALUNOS.

João Grande   e   João Pequeno

“Eles serão os grandes capoeiras do futuro e para isso trabalhei e lutei com eles e por eles. Serão mestres mesmo, não professores de improviso, como existem por aí e que só servem para destruir nossa tradição que é tão bela. A esses rapazes ensinei tudo o que sei, até mesmo o pulo do gato”.

PARA PASTINHA OS  TOQUES  ERA:

São Bento grande, São Bento pequeno, Angola, Santa Maria, Cavalaria, Amazonas e Iuna.


MESTRE NORONHA- Daniel Coutinho nasceu em Salvador (BA), na Baixa dos Sapateiros e iniciou seu aprendizado na Capoeira com Cândido da Costa (Cândido Pequeno) aos 8 anos de idade. Foi engraxate, estivador, doqueiro, trapicheiro e ajudante de caminhão. Junto com Livino, Maré, Amorzinho, Aberrê, Percílio, Geraldo Chapeleiro, Juvenal Engraxate, Geraldo Pé de Abelha, Zehí, Feliciano Bigode de Seda, Bom Nome, Henrique Cara Queimada, Onça Preta, Cimento, Argemiro Grande, Argemiro Olho de Pombo, Antônio Galindeu, Antônio Boca de Porco, Cândido Pequeno (Argolinha de ouro), Lúcio Pequeno e Paquete do Cabula fundou o “Primeiro Centro de Capoeira Angola do Estado da Bahia”, em Ladeira da Pedra, Gengibirra, na Liberdade. Com Livino fundou, também o “Centro de Capoeira Angola da Conceição da Praia”. Deixou seus manuscritos organizados por Fred Abreu e publicados pelo Programa Nacional de Capoeira, intitulado “ABC da Capoeira Angola”.


MESTRE CANJIQUINHA.Washington Bruno da Silva nasceu em Salvador, em setembro de 1925 e seu “mestre” foi Raimundo Aberrê. O apelido foi dado por um amigo, inspirado no Samba “Canjiquinha quente”, cantado por Carmem Miranda. Segundo esse amigo, era a única música que Washington sabia cantar, por isso começou chamá-lo de Canjiquinha, e pegou.

Excelente capoeirista, Canjiquinha também se destacava pela sua performance no canto e nos instrumentos. Grande improvisador, contribuiu muito na adaptação das cantigas populares. Dos capoeiristas, Canjiquinha foi o mais requisitados para exibições. Chegou a atuar no cinema, nos longa-metragens “Os Bandeirantes”, “Barravento”, “O Pagador de Promessas”, “Senhor dos Navegantes”, “Samba”, entre outros.

Toques de Berimbau usado por Mestre Canjiquinha

Angola, Angolinha, São Bento grande, São Bento pequeno, Santa Maria, Ave Maria, Samongo, Cavalaria, Amazonas, Angola em Gegê, São Bento grande em gegê, Muzenza, Jogo de dentro e Aviso.


MESTRE CAIÇARA

Antonio Conceição Moraes, Mestre Caiçara, nasceu em Cachoeira de São Felix, no Recôncavo Baiano, em 08 de Maio de 1924. Foi discípulo de Antonio Rufino dos Santos (Aberre de Santo Amaro e Waldemar de Perovaz) e era membro do Conselho de Mestres da Associação Brasileira de Capoeira Angola.

Longas décadas atrás, preocupados com os crescentes pedidos para comparar a Capoeira com as demais lutas, Mestre Caiçara já tinha seu veredicto: “Cada qual com seu cada qual” eliminando assim de vez o falso problema.

Nada mal para quem, na juventude, muito forte e ousado, limitava-se a comandar as principais figuras de uma determinada área de meretrício de Salvador. Mais tarde, mestre de capoeira, mestre da própria vida, e, certamente com as bênçãos de todos os Orixás da Bahia, Caiçara começou a fazer um exemplar trabalho comunitário com os meninos de rua.


 

MESTRE WALDEMARA DA PAIXÃO   um capoeirista de grande destaque entre em os que defendiam a escola tradicional foi Mestre Waldemar da Liberdade, nascido 1916 e falecido em 1990, cantador absoluto, Capoeira desde rapaz. Teve como seus Mestres, nada menos do que Siri de Mangue, Tanabí e Canário Pardo. Freqüentador assíduo das Festas de Largo, tinha o seu barracão, na Liberdade, onde ensinava e promovia as suas Rodas, muito conhecidas e apreciadas por todos e freqüentadas por capoeiras e artistas como o notável Carybé. Ficou conhecido também pela qualidade e beleza dos berimbaus que fabricava. Temido e respeitado, por todos com quem jogava, teve vários admiradores e alunos, dentre eles Zacarias. Muitos e muitos capoeiristas e estudiosos, várias vezes recorrem ao Mestre que sempre atendeu a todos com a simpatia e cortesia de um Capoeira genuíno. Hoje Mestre Waldemar anda por outras Rodas, porém aqueles que passam pela Avenida Peixe, na Liberdade, ainda podem sentir a sua presença e ouvir o seu inconfundível canto, acompanhado com seu “berimbau voizero”.

Toques de berimbau usados por Mestre  Waldemar da Paixão:

São Bento grande, São Bento pequeno, Angola, Guarani, Ave Maria, Santa Maria, Cavalaria, Angolinha, Gegê, Estandarte e Iuna.


MESTRE  COBRINHA VERDE- Rafael Alves França, mandingueiro respeitadíssimo no seu percurso por este mundo de meu Deus. Nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA). Com 4 anos de idade iniciou-se na Capoeira pelas mãos de Besouro, seu primo carnal. Além de seu primeiro mestre, Cobrinha Verde também bebeu da sabedoria de Maitá, Licurí, Joité, Dendê, Gasolina, Siri de Mangue, Doze Homens, Espiridião, Juvêncio Grosso, Espinho Remoso, Neco, Canário Pardo e Tonha. Foi 3° Sargento no antigo Quartel do CR em Campo Grande, tendo participado também da Revolução de 32 entre outras pelejas. Durante muitos anos ensinou em seu Centro Esportivo de Capoeira Angola Dois de Julho, com sede no Alto de Santa Cruz, s/ n°, no Nordeste de Amaralina.

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MESTRE BIMBA – (1899-1974)

Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba, nasceu no dia 23 de novembro de 1899, no bairro Engenho Velho, freguesia de Brotas, Salvador-Bahia. Filho de Luiz Cândido Machado, ex-escravizado, descendente de banto e mestre do batuque, e Maria Martinha do Bomfim (descendente de índios).

Mestre Bimba foi iniciado na capoeira antiga pelo Africano Bentinho (Nozinho Bento), capitão da Companhia de Navegação Baiana, durante aproximadamente quatro anos. Com essa experiência, Mestre Bimba ensinou a capoeira antiga por dez anos. O local das aulas era conhecido como “Clube União em apuros”, no bairro da Liberdade, habitado majoritariamente por negros.

No final da década de 1920, Mestre Bimba, após anos de experiência, percebeu a possibilidade de misturar elementos da chamada Capoeira Tradicional com o batuque (luta do Nordeste brasileiro), desenvolvendo, assim, um novo estilo, com movimentos mais rápidos e acompanhado de música. Com a junção do batuque com a capoeira de Angola, surge a Capoeira Regional, considerada arte genuinamente brasileira.

Em 1932, Mestre Bimba abre a primeira academia especializada em capoeira, no Bairro Engenho Velho de Brotas. Somente em 1937 obteve, na Secretaria de Educação, Saúde e Assistência pública, o registro de diretor de curso de Educação Física, que estrategicamente o levou a redefinir o seu local de treinamento como Centro de Cultura Física Regional, inserindo então a Capoeira Regional no campo do esporte. Cabe salientar que, oficialmente, foi a primeira academia de capoeira a ter seu alvará de funcionamento, datado de 23 de junho de 1937. Nesse mesmo ano, fez a primeira apresentação do seu trabalho para o interventor general Juraci Magalhães, onde estiveram presentes autoridades civis e militares, entre outros convidados ilustres.

Em 1939, Mestre Bimba ensinou capoeira no Quartel do CPOR. Em 1942, instalou sua segunda academia. Em 1949, o escritor Monteiro Lobato o conheceu e lhe dedicou o conto “Vinte e dois de Marajó”, que conta a história de um marinheiro capoeirista. Em 23 de julho de 1953, exibe-se no Palácio do Governo, sendo governador eleito Juraci Magalhães (o mesmo que assistiu à apresentação de Mestre Bimba em final da década de 1930), e para o então presidente Getúlio Vargas, que, tendo ficado tão impressionado, declarou que a capoeira era o único esporte verdadeiramente nacional. Vargas terminaria revogando a lei que criminalizava tanto o candomblé como a capoeira, muito embora com limitações para as práticas do candomblé, a capoeira gozava da liberdade esportiva.

Mestre Bimba foi um exímio lutador e grande educador. Colocava regras para os participantes da Capoeira Regional, tais como não beber, não fumar, ter boas notas na escola, dentre outras. Com seu método, foi responsavel por tirar a capoeira da marginalidade.

Em 1973, Mestre Bimba, por motivos financeiros, mudou-se da Bahia para Goiânia, e em 5 de fevereiro de 1974 veio a falecer vitimado por um derrame cerebral. Em 12 de junho de 1992, a Universidade Federal da Bahia lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa.